sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Violência cresce no Norte e Nordeste

Pesquisa do IBGE revela aumento no número de assassinatos e suicídios a partir de metade desta década

iG* | 12/11/2010 10:00

 
Os dados divulgados nesta sexta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) explicam a principal preocupação dos moradores do Norte e Nordeste. Respondendo a pesquisas de intenção de voto durante a campanha presidencial, os eleitores destas duas regiões disseram que o principal desafio da próxima presidente é combater a violência urbana. O IBGE confirmou essa preocupação com números: enquanto a quantidade de homicídio vem caindo no Sul e no Sudeste, a violência tem crescido no Norte e no Nordeste do Brasil. Só nesta semana, por exemplo, duas rebeliões de presos deixaram três mortos em Manaus, no Amazonas, e dezoito em São Luis, no Maranhão.
A pesquisa do IBGE reúne dados de cartórios de registro civil, varas de família, foros e varas cíveis e os tabelionatos de notas de 2009. Realizado anualmente, o levantamento faz um retrato da vida cotidiana do Brasil: nascimentos e mortes (incluindo suas causas), casamentos e divórcios. No caso da violência, a pesquisa revela que os casos de mortes violentas atingiram um pico em 2002 e, desde então, vem caindo gradativamente no país. Em 2009, 14,9% dos casos registrados de mortes de homens, no Brasil, estavam relacionados a assassinatos, suicídios ou acidentes de carro. Em 2002, esse número era de 16,2%. Um fenômeno inverso vem acontecendo nas regiões Norte e no Nordeste.
No País, cerca de 14,9% das mortes de homens são causadas por algum tipo de violência. Esse número sobe para aproximadamente 20% no Pará, Amapá e Rondônia
Atualmente, a região Centro-Oeste tem a maior proporção de mortes violentas do Brasil. Em 2009, casos como esses chegaram a 18,2% do total de mortes, uma leve queda comparada ao patamar de 20% da década de 1990. Porém, se antes ela estava isolada neste ranking, a partir de 2006 passou a ter a companhia da região Norte. Em Estados como Pará, Amapá e Rondônia, tal como no Centro-Oeste, um em cada cinco homens morreu de causa violenta em 2009. No Nordeste, a virada começou em 2005. Até metade desta década, os índices de morte violenta no Nordeste eram semelhantes aos do Sul do Brasil. Em 2009, a região ficou em terceiro lugar no ranking. Ao todo, 15,5% das mortes no Nordeste tiveram causa violenta em 2009.
Para o coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), César Barreira, uma das explicações para o aumento da violência é o desemprego. Enquanto a média de desemprego no Brasil é de 6,7%, a taxa na região metropolitana de Fortaleza fica em torno de 18%, segundo dados do IBGE. Além disso, ele aponta, os Estados da região não contam com serviços públicos suficientes, como áreas de lazer e escolas, que ajudem a combater a violência. De fato, a violência vem caindo no Sul e no Sudeste porque, além de a polícia estar prendendo mais, as taxas de desemprego têm caído significativamente, ficando próximas às da média do país, e a oferta de serviços públicos é maior.
O último caso de homicídio em Monte Belo do Sul, que fica a 150 quilômetros de Porto Alegre, aconteceu há 30 anos
Além da insegurança nas ruas, um dos efeitos da violência são as rebeliões. Nesta semana, uma rebelião de presos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA), durou mais de 28 horas e terminou com 18 mortos - sendo três deles degolado. Já na Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus (AM), o motim durou aproximadamente seis horas e deixou um total de três mortos. O presídio foi projetado para ter 200 presos e, hoje, 828 pessoas vivem dentro dessa cadeia.
Sul e Sudeste
Por outro lado, o Sul e o Sudeste têm passado por uma queda significativa nestes índices. O Estado de São Paulo registrou no terceiro trimestre deste ano o menor número de homicídios desde que a Secretaria de Segurança Pública começou a reunir esses dados. No período, o número de homicídios ficou abaixo de 10 pessoas assassinadas por grupo de 100 mil habitantes. Segundo dados da Secretária de Segurança Pública (SSP), de julho setembro a média ficou em 8,86 por 100 mil habitantes. O número absoluto caiu de 1.078 para 937, quando comparado com o mesmo período de 2009.
No Sul do Brasil, há casos impensáveis em outras regiões. Quem responde ao telefonema pela prefeitura de Monte Belo do Sul, a 150 km de Porto Alegre, ouve o pedido do repórter e diz: “Vou chamar uma pessoa que pode te dizer se algum dia houve um homicídio aqui”. Vem então ao telefone Eleliane Dalle, mulher do prefeito Adenir José Dalle (PMDB) e secretária da Administração da cidade de 2760 habitantes. Ela confirma: “Não temos nenhum registro de homicídio aqui há 30 anos”. Monte Belo do Sul emancipou-se de Bento Gonçalves há 18 anos e, desde esse “nascimento”, nunca houve um caso de homicídio. A cidade, cuja economia baseia-se na agricultura, em especial na produção de uva, tem apenas uma indústria, de móveis, e boa parte da sua população está acima dos 60 anos.

*Por Alexandre Haubrich (iG Rio Grande do Sul), Lauriberto Braga (iG Ceará) e Leandro Beguoci e Marcio Apolinario (iG São Paulo)

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