Acordo de cúpula confirma Hélio
RICARDO MIRANDA - Repórter
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“Estou no céu”. Foi com essa expressão, escrita na manhã de quinta-feira no Twitter, que o senador Hélio Costa (PMDB) reagiu ao ser comunicado que o ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT), havia admitido a possibilidade de compor a dobradinha PMDB-PT na sucessão ao Governo de Minas. Antes, na noite de quarta-feira, ele já havia comemorado a decisão negociada do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, de concorrer a outro cargo, deixando livre o caminho para a disputa pelo Palácio Tiradentes. Amanhã o peemedebista espera ser alçado pelas direções nacionais de PMDB e PT à condição de candidato da base do presidente Lula ao Governo de Minas. Entretanto, hoje, no apagar das luzes, petistas mineiros tentam a última cartada para convencer a cúpula do partido em Brasília de que Pimentel é o nome mais viável para enfrentar o governador Antônio Augusto Anastasia (PSDB). As recentes pesquisas de intenção de voto serão usadas como argumento. Nelas, o desempenho de Hélio Costa e Pimentel é semelhante.
O encontro de hoje, que tem confirmada a presença de parlamentares do PT, do PCdoB e do PR, vai acontecer na casa do ex-vice governador do estado Clésio Andrade (PR), na região da Pampulha, em Belo Horizonte. O PMDB também é esperado, mas o presidente da legenda no estado, deputado Antônio Andrade, disse que a proposta era para que peemedebistas e petistas encontrassem uma solução conjunta, mas sem interferência de outras siglas. Ele questionou principalmente a presença do PR, que estaria também conversando com o ex-governador Aécio Neves (PSDB). O vereador Júlio Gasparette (PMDB), que participaria do encontro, desistiu da viagem depois de ser comunicado pela assessoria de Hélio Costa de que não seria mais necessário comparecer. “A decisão foi transferida para segunda-feira em Brasília. Será lá que a chapa vai ser anunciada.” Ainda segundo ele, as conversas avançaram a partir do meio da última semana, com a participação direta do presidente Lula.
Com ou sem a presença do PMDB, os demais partidos da base governista em Minas vão se reunir hoje. A garantia é do deputado e presidente estadual do PT, Reginaldo Lopes, para quem a ausência de representantes peemedebistas vai justificar a aposta numa candidatura de imposição. “O PMDB aceitou entrar para o jogo e agora quer sair antes do término. Tínhamos um acordo de que, no domingo (hoje), apresentaríamos duas pesquisas e, a partir delas, definiríamos o candidato. Como o Pimentel superou o Hélio (Costa) nos dois levantamentos, eles (peemedebistas) não querem mais conversar.” O dirigente afirmou que ainda aguarda pelo PMDB e, caso o partido não apareça, vai comunicar oficialmente à cúpula nacional do PT que o candidato será Pimentel. Dessa forma, a decisão só poderá ser revista por meio de uma intervenção do diretório nacional petista, hipótese descartada pelo presidente José Eduardo Dutra em entrevista ao jornal “Hoje Em Dia”.
Ao jornal de Belo Horizonte, o dirigente do PT afirmou que “a bola” está com os diretórios dos partidos em Minas, sendo interesse das cúpulas nacionais apenas a manutenção do palanque único no estado para a presidenciável petista, Dilma Rousseff. Para Reginaldo Lopes, o discurso de Dutra já é reflexo dos resultados das pesquisas, que foram encaminhadas ao diretório nacional do PT em Brasília. “O Pimentel é o candidato que pode ganhar em Minas. As pesquisas mostram isso qualitativa e quantitativamente.” No PMDB, por sua vez, ninguém comenta os levantamentos feitos pelos institutos Ibope e Sensus. O assunto da sucessão em Minas foi encerrado depois da passagem de Hélio Costa em Brasília na quarta-feira, quando esteve com o deputado e candidato a vice na chapa de Dilma, Michel temer (PMDB). Na ocasião, os peemedebistas condicionaram a permanência na composição presidencial à candidatura do partido em Minas.
‘Empurrado eu não vou’ - Sem certeza quanto à intervenção ou não, os petistas mineiros, por via das dúvidas, lançaram na internet uma espécie de campanha de resistência contra uma possível decisão vinda das cúpulas nacionais de PT e PMDB. Chamado de “Empurrado eu não vou”, o movimento no Twitter defende a viabilidade do nome do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) como cabeça de chapa em detrimento do senador Hélio Costa (PMDB). A campanha ganhou o apoio dos deputados petistas Reginaldo Lopes e Miguel Corrêa Júnior, além de Lincoln Portela (PR), que negam a existência de qualquer decisão de cima para baixo. A mobilização vem ganhando corpo desde a última sexta-feira a partir de uma mensagem de Lincoln Portela com o seguinte teor: “Empurrado eu não vou, e você, vai deixar que te empurrem decisões autoritárias ‘goela abaixo’ na base do “manda quem pode?” O texto é uma referência à mensagem publicada também no Twitter por Hélio Costa onde ele deixou claro que a aliança com o PMDB é uma determinação do presidente Lula. “Volto a lembrar as palavras do meu presidente e líder: ‘É só ter juízo’. Fala quem pode, obedece quem tem juízo. Certo?”, escreveu o senador na ocasião, para relatar dois dias depois que estava com a “cabeça quente” por conta da indefinição.
Na sexta-feira, Miguel Corrêa Júnior publicou no microblog que, mesmo com a pressão do PMDB em Brasília, o jogo ainda não estava encerrado. “Estamos aos 40 do segundo tempo, ainda temos jogo.” Ontem, em mais uma investida contrária a qualquer decisão de cúpula, os deputados voltaram a protestar no Twitter. Reginaldo, Lincoln e Miguel Corrêa publicaram mensagens onde se comprometem a seguir os conselhos da mãe do presidente Lula, dona Lindu. “Vocês lembram o que Dona Lindu sempre dizia ao Presidente Lula? ‘Teima meu filho, tem que teimar...’”, escreveu o deputado do PR. A mesma frase de dona Lindu é repetida à exaustão pelo próprio presidente da República e virou slogan do filme “Lula, o filho do Brasil”.
Mania entre os petistas na internet, a expressão “empurrado eu não vou”, na verdade, é do ex-presidente da República Tancredo Neves e foi repetida pelo neto dele, o ex-governador Aécio Neves (PSDB), para negar a possibilidade de ser candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB). “Não adianta empurrar, empurrado, eu não vou”, afirmou o tucano em entrevista concedida em 3 de março. Antes, em 1985, Tancredo usou a mesma frase para responder às pressões feitas pelo então deputado João Amazonas, do PCdoB, para que assumisse posições a favor das reformas de base. Pimentel pode concorrer à Câmara - Caso seja mesmo convencido a deixar a disputa pelo Governo de Minas, o caminho mais provável para Fernando Pimentel (PT) é a Câmara dos Deputados. Embora tenha o compromisso do próprio PT e do PMDB para disputar uma cadeira no Senado, o petista teria revelado a interlocutores peemedebistas que deve mesmo entrar na briga por uma vaga de deputado. Com isso, seu aliado de primeira hora, deputado federal Miguel Corrêa Júnior (PT) lutaria por uma cadeira na Assembleia. A decisão de Pimentel também afetaria os planos do ex-prefeito Tarcísio Delgado (PMDB), que está sendo cotado para assumir a vaga de suplente, no caso de o petista concorrer ao Senado. Dessa forma, a aposta dos peemedebistas de Juiz de Fora é de que o ex-prefeito assuma, então, a condição de candidato a senador. Todas as hipóteses, no entanto, dependem dos desdobramentos previstos para hoje em Belo Horizonte e amanhã em Brasília. No apalavrado até agora, as vagas de vice e de candidato ao Senado ficam com o partido que não estiver na cabeça da chapa.
Independentemente de como vai terminar o imbróglio de PT e PMDB, certo é que as performances do ex-governador Aécio Neves (PSDB) e do ex-presidente Itamar Franco (PPS), que são pré-candidatos ao Senado, pesam e muito para aqueles que pretendem buscar o mesmo caminho. A uma mês do início da campanha, a distância de Aécio e Itamar para os demais propensos concorrentes em todas as pesquisas é imensa e desanimadora. No caso específico do PT, há o histórico do caso Patrus Ananias nas eleições de 2002, quando ele abdicou de concorrer ao cargo de senador para concorrer à Câmara, sendo eleito com meio milhão de votos. Não passou muito tempo, Patrus foi convidado para assumir o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Na avaliação dos petistas, dificilmente ele seria alçado à pasta com insucesso numa eventual campanha para o Senado. Como não é segredo para ninguém, Pimentel já tem seu ministério reservado em caso de vitória da presidenciável Dilma Rousseff (PT).
Fonte: TRIBUNA DE MINAS - Juiz de Fora - 6 de junho de 2010, domingo
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